SONETO 51
A vida do pobre é um beco sem luz
No qual se penetra sem vontade ou fé.
Lá, cada qual cravado em sua própria cruz
Sonha cocanhas encantadas. Não é
Mesmo piração descrer do que se vê
Se sente na carne, essa que reproduz
Na alma a dor, o frio (porém também o prazer),
Em vez de gozar do beco o santo pus?
É que há mais graça em sob a dor delirar
Do que dela tirar um gozo doente
Já que desse beco vivo não se sai.
Porém ai se descobrem que o pobre vai
Ludibriando a dor com a força da mente
- Nesse dia ele terá que aprender a matar.
20/03/18
Ilustração: Igor Morski
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